domingo, 5 de fevereiro de 2012

O que andou acontecendo pela USP

I
A ideia de um texto assim é engraçada, porque a USP não é lá muito badalada nas férias (afinal, férias são férias dãr!) exceto pela galera da pós, funcionários, professores e modadores do CRUSP; ok, é bastante gente, mas você, bixo, não é nenhuma dessas pessoas. Qual a utilidade de contextualizar sobre esse vazio todo que seriam as férias escolares?
Bem, digamos que ainda em férias algumas coisas rolam. Estou escrevendo esse texto bem antes da vossa matrícula -- prazos, vocês vão ver que não só os professores são bons em estipulá-los -- mas ao que tudo indica, os estudantes que se organizam na coisa chamada “Movimento Estudantil” estarão já na semana de recepção promovendo a “Calourada Unificada em Greve”. Sim, o ano começa em greve dos estudantes.
CALMA!
A primeira coisa que você precisa aprender, e esse é o mote desse texto, é que não dá para não ouvir qualquer declaração dessas (seja as de que há uma revolução anarco-fasci-socio-comuno-pós-contemporanista prestes a acontecer, por parte de amplos setores do MovEstud, seja as de que tudo é lindo, inovador, tecnológico, internacionalizado e prafrentex, por parte do que diz oficialmente a Reitoria) sem um sorriso-de-canto crítico. Daí vem a contextualização.

II
Em 2011, depois do convênio firmado entre Reitoria e Polícia Militar, a PM aqui entrou com o intuito de proteger e trazer segurança à comunidade. Mas entrou fazendo o trabalho normal dela, do jeito dela. Esse tipo de serviço incomoda algumas pessoas, e havemos de reconhecer que é um incômodo mor-das-vezes saudável. Afinal, a perseguição a usuários de drogas não necessariamente tem a ver com trazer segurança, e quando deslocam-se os contingentes de proteção para pegar pessoas risonhas e emaconhadas, algo deve incomodar, por mais legalizada que seja a guerra-às-drogas.
Três estudantes da Geo (grafia, não logia) foram pêgos “fazendo a cabeça” numa tarde de quinta-feira, pela polícia; nada de incomum, a PM chega a tirar alunos de dentro da biblioteca para dar “geral”, assim como espanca sistematicamente adictos de crack, longe dos nossos olhos. Nada disso é novidade. Os alunos que estavam lá “queimando um” recusaram-se a ir para a delegacia, algo que não agrada os policiais e certamente gera fuzarca; Gerou: chegou mais polícia, e mais aluno, e mais polícia, e mais aluno, e quebra-pau rolou, e eles (alunos, óbvio) ocuparam a diretoria da FFLCH.
Ficaram lá por uma semana, mais-ou-menos, queimaram umas bandeiras (muito feio!) e devolveram o prédio à administração da FFLCH (que inclusive manifestou-se publicamente contra a ação da polícia no dia dos três estudantes). Quando decidiram sair de lá, numa Assembleia Geral dos Estudantes (todos os da usp que conseguirem chegar), houve umas coisas muito esquisitas (que alguns chamam de golpe) e a Assembleia acabou esvaziada e votando a ocupação da reitoria. 70 invadiram, e em menos de uma semana já colaram 400 policiais, cavalaria, 4 helicópteros, e, boatos, o próprio Jack Bauer, para tirar todo mundo de lá na chamada “reintegração de posse”, que havia sido anunciada aos alunos, mas não muito acreditada pelos mesmos.
Foi feio, meio medievalizado, a galera socada em um busão na porta da delegacia, meninas sendo levadas para quartos com policiais e gritando por meia hora sem ninguém saber  que acontecia, uma coisa digna do Kim Jong II, que Deus o Tenha. Isso fez com que a USP se mobilizasse, muita gente que se mantém afastada das movimentações políticas entrou na discussão sobre segurança, ação da polícia, (ausência de) democracia na escolha do Reitor e tudo mais. E quando a discussão entra em grupos maiores, e ganham força as opiniões que fogem dos mainstreams simplistas que polarizam as discussões (e normalmente têm mais voz, mídias e panfletos), a tendência  é as coisas ficarem mais belas.

III
Também nessa época foi votada uma Greve geral dos estudantes, à qual alguns cursos aderiram, mas a Psico não. O que não significa que deixamos o assunto de lado: houve aulas públicas, rolaram algumas assembleias muito legais, alguma vazias também, e até um bando de malucos a fim de ter tempo, calma e convivência para formar opiniões-menos-toscas sobre as coisas, conseguiu provar, em quase um mês de acampada na Praça do Apego, que estar vivendo num espaço é o que torna ele seguro e coletivo de verdade.
Enfim, as Assembleias Gerais da USP continuaram rolando no fim de 2011, e a greve dos estudantes continuou. Mas as Assembleias foram se esvaziando, e o contato com as “bases”, nos cursos e suas pequenas comunidades, foi ficando fraco. Isso dá margem às ações político-delirantes que pipocam por aí. Por fim, “2012 Começa em Greve” é a palavra-de-ordem, e a Calourada Unificada (evento que o DCE normalmente faz, mas que esse ano não fará por conta de outra longa história) será conduzida pela galera que tá tocando a greve.
Reparem que não faço aqui apologia à greve ou contra ela, ao ME ou contra ele, ou à Reitoria ou contra ela. Assim como a questão NÃO É se você é behaviorista ou gosta de psicanálise, como se costuma pensar quando recém-segundanizado aqui na Psico. A cultura da  USP e as suas estruturas de informar têm uma tendência forte ao maniqueísmo.
Tudo se baseia em formar pares de opostos excludentes, em que você escolhe um lado e abraça. É necessário ser menos bobo, e como bom esperto, não dar a resposta certa à questão. Afinal, a questão “a greve é boa ou ruim?” é errada desde o princípio, tal como “PM ou não?” ou “há mente ou não?”. Questões assim precisam ser rejeitadas.

IV
Rejeitar a questão, porém, não deve recair na rejeição ao pensamento, pelo menos assim penso eu ao cravar meus pés na lama de uma boa Universidade Pública; para uma renúncia cética do raciocínio (pois o pensar é sempre questão de fé) mister é procurar alguns meios menos nobres de enriquecimento que o universitário. Aqui, infelizmente, é preciso pensar, quando é preciso.
É porque talvez a verdadeira palavra-de-ordem seja essa desobediência civil -- às eventuais baboseiras que mandem o Rodas, o Grande Outro ou o Movimento Estudantil -- para a construção da discussão realmente Cyvilizada. É isso que um Centro Acadêmico deve garantir, dentro de uma universidade e inculcado nela. Igualmente, é isso que alguns descontentes andam pedindo pelo mundo todo, e também é isso que nosso Acampsi tenta fazer. Enfim.
Fecho essa súmula com o imperativo neoliberal mais retweetado em mandarim:
“todo Poder aos sovietes!”

Thiago “Betão” (10)
A Imprensa do CAII

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