terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

CRUSP

        A USP oferece, para os alunos vindos de outras cidades e de baixa renda, moradia dentro da própria Cidade Universitária, no Conjunto Residencial da USP (CRUSP). Ele é formado por oito blocos no total. Sete deles com apartamentos de dois ou três quartos e um banheiro. A cozinha é coletiva a todos os apartamentos do bloco. Há mais um bloco, inaugurado em 2011, com seis ou cinco quartos, dois banheiros, uma cozinha e uma área de serviço, em cada apartamento. Dois dos blocos são destinados a alunos da pós-graduação e o restante para alunos da graduação.

Algumas Vantagens
         Além de não pagar aluguel, nem conta de água e luz, nem manutenção e ainda ter um quarto só seu, residir no CRUSP traz muitas vantagens. Uma delas é a comodidade de morar a cinco minutos da sua faculdade e, ainda por cima, do ladinho do Restaurante (Bandejão) Central. Essa comodidade na localização é acentuada quando falamos de festas na USP! Isso mesmo! Você não precisa sair mais cedo do Quinta&Breja por causa do ônibus ou metrô que encerra às 0h, nem ficar chorando por carona, dependendo dos outros, ou ir andando até o Portão 3. E, de brinde, se você ficar bêbado, não esquenta... Você está do lado de casa! Isso tudo incluindo a liberdade de trazer visitas ou hospedar alguém. Ou ficar sozinho com a namorada numa boa...

 História e Ocupações
         Brincadeiras à parte, o CRUSP é muito mais do que uma simples moradia estudantil, ele foi palco de inúmeros acontecimentos que mudaram a história da USP e deste país. Esse conjunto residencial tem muita história! Tentarei resumi-la em poucas palavras.
         Os prédios do CRUSP que hoje servem a moradia estudantil começaram a ser construídos em 1963 com a finalidade de abrigar os esportistas dos Jogos Pan-americanos daquele ano. A promessa da reitoria de, após os jogos, transformá-los em moradia, porém, não foi cumprida. E, diante disso, estudantes se organizaram e ocuparam inicialmente cerca de 90 apartamentos.
         Após esta ocupação, a reitoria criou o ISSU (Instituto de Saúde e Serviço Social da USP) para gerir a moradia em formação e tentar conter o movimento de estudantes. No entanto, já em 1964, seis blocos se encontravam ocupados, ou seja, a moradia estudantil na USP surgiu como fruto de sucessivas ocupações.
         Nessa época, existia um Colegiado de Representantes do CRUSP que reunia moradores/as e um representante do ISSU e, em 1967, os estudantes criaram a AURK - Associação de Universitários Rafael Kauan para resistir às políticas repressivas da reitoria (o nome da Associação foi dado em homenagem a um dos integrantes do movimento iniciado em 1963, que morreu em um “acidente” misterioso). Desta maneira, os moradores conseguiram se mobilizar e quebrar as regras arbitrárias impostas pelo ISSU e, desde então, o CRUSP cumpriria sua função de moradia, lugar de formação de identidade e foco de resistência e luta do movimento estudantil.
         O Conjunto Residencial era um espaço de convivência dos estudantes, onde: debatia-se, estudava-se e vivia-se uma experiência universitária para além dos estudos acadêmicos. No entanto, quatro dias após o decreto do AI V, em dezembro de 1968, o CRUSP foi desocupado violentamente por policiais que expulsaram centenas de estudantes dos apartamentos durante a madrugada. Desde então, o Conjunto Residencial da USP transformou-se num deserto de esqueletos de prédios, museus e setores da burocracia. Apesar do desaparecimento de estudantes, da proibição à liberdade de expressão e da perseguição e repressão ao movimento, a história e a memória dos que lutaram não foram esquecidas.
         A partir de 1979, com a abertura política no país, os estudantes voltaram a ocupar os prédios do CRUSP. Entretanto, em 1984, os moradores sofreram nova ameaça de despejo diante da morte acidental de dois estudantes nas dependências do CRUSP. Neste contexto, foi criada a COSEAS (Coordenadoria de Assistência Social) como ferramenta da reitoria para administrar e controlar o Conjunto Residencial, intervindo diretamente nos processos de gestão estudantil
         Em resposta, surgiu a AMORCRUSP (Associação de Moradores do CRUSP), por meio da qual os estudantes se organizaram novamente para defender seus direitos, fomentando a luta por moradia e permanência estudantil, e incentivando a criação de espaços de vivência e a resistência do movimento no CRUSP.
         Na história recente, tivemos, a partir da organização coletiva dos moradores por meio da Associação, a ocupação do bloco D, então utilizado como museu, em 1994, que garantiu que tal prédio retornasse ao seu sentido original de moradia; em 1996 a ocupação da administração contra o estatuto meritocrático imposto; em 2010 a retomada de parte do Bloco G para a moradia, a famosa “Moradia Retomada”.

Seleção
         Como o número de vagas nunca atende a demanda, é feita uma seleção dos moradores de acordo com critérios socioeconômicos. O número de vagas depende da quantidade de antigos moradores que deixam o CRUSP, porque se formam ou resolvem morar em outro local.
         A seleção de moradores da graduação acontece no início do ano, logo após as férias, entre fevereiro e março. Para participar, o aluno deve se inscrever no site da COSEAS (www.usp.br/coseas). Logo na página inicial, existirá a opção “Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil” (PAPFE), onde é feita a inscrição para bolsa-moradia.
         Os alunos passam por entrevistas com assistentes sociais da COSEAS e entregam documentos socioeconômicos para avaliação. Os critérios da análise buscam dar preferência aos alunos com maiores necessidades econômicas e os resultados são divulgados no site em abril. Para a pós-graduação, as vagas são abertas no segundo semestre. A inscrição acontece da mesma forma, no site da COSEAS e a seleção funciona como no caso da graduação. Lembrando que ao início de cada ano é necessário renovar a bolsa.

Cotidiano e Pessoas
         Para estudantes de várias partes do Brasil, que passam  no Vestibular e sem condições de "encarar" a dura trajetória de viver longe dos parentes, numa cidade como São Paulo, onde o preço de um quarto para alugar alcança com facilidade a faixa dos R$ 400 por mês, o CRUSP permite a muitos a conclusão do curso superior. Por causa de sua história conturbada, o local adquiriu uma fama que contrasta com o fato de ter abrigado algumas das maiores cabeças da Universidade, incluindo vários professores, que foram moradores.
         As tentativas feitas para se definir o "típico" cruspiano foram mal sucedidas, pois se trata de uma sociedade em mutação. Há casos de gente que já morou em trocentos apartamentos diferentes e gente que morou do início ao fim no mesmo apartamento. Em outros casos, sendo da área de Odontologia, dividir o apartamento com  pessoas da Faculdade de Letras. Existem homossexuais morando com crentes, malufistas com stalinistas, ex-favelados com boyzinhos, todo tipo de mistura. Por isso, acima de tudo, é um lugar que escapa de descrições simples.
         Claro que o processo de adaptação à comunidade cruspiana envolve abdicar de algumas coisas. O estudante que escolher o CRUSP por moradia deve esquecer com certeza do significado de algumas palavras e re-aprender o significado de outras. Pois o conceito de normalidade se altera, uma vez morando nessa comunidade. No entanto, o CRUSP foi e é, bem ou mal, uma experiência de vida para todos os jovens que nele moraram e moram.

Para saber mais
         Para você entender mais sobre a história e a vida no CRUSP, recomendo as seguintes referências: O texto “O CRUSP visto por um mineiro” de Derneval R. R. da Cunha e o documentário “A Experiência Cruspiana” de Nilson Queiróz Couto.
                                                                                                                                                                            Hudson(11)

3 comentários:

  1. Queria saber se os quartos são separados e tem como trancá-los?

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  2. Boa noite pessoal.
    O motivo de meu contato é sobre uma pesquisa que estou precisando fazer no Instituto de Estudos Brasileiros que, pelo vi, fica perto do Conjunto residencial da USP.
    Eu explico: Meu nome é André de Brito e moro em Natal.
    Estou pesquisando um tema relacionado a Mário de Andrade e Luis da Câmara Cascudo. O que exatamente estou procurando eu já sei que tem no arquivo desse Instituto.
    O problema é bem claro e com isso dá pra entender o motivo de meu contato.
    Gostaria muito ter acesso a esse material de pesquisa, mas como moro em Natal, eu não teria condição agora de viajar até SP e fazer isso pessoalmente.
    Entrei em contato com o Instituto através do site e a pessoal me respondeu que a consulta deverá ser feita presencialmente.

    A minha intenção é a seguinte:
    Eu passo as informações do que desejo pesquisar e a pessoa que fará isso pra mim vai até lá para pegar esses dados(apenas informação).
    A pesquisa na verdade é iconográfica. É apenas analisar algumas fotografias e me passar o que eu desejo saber.
    Como forma de agradecimento à essa ajuda eu irei pagar um valor referente a esse trabalho.
    É só a pessoa me passar os dados de sua conta que deposito um dinheiro.

    Se alguém tiver interesse em me ajudar nessa pesquisa, me responda que eu passarei melhor os detalhes. Acredito que a pesquisa não irá demorar mais que uma hora.

    Mais uma vez boa tarde e obrigado.

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  3. e se caso eu passar na usp leste ou na sanfran que são da usp, mas não ficam na cidade universitária, eu tenho acesso ao crusp??

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